Atualizada às 22:33hs.
O Ministro das Relações Exteriores confirmou que o embaixador do Brasil na Nicarágua, Breno de Souza, deixou o país na noite desta quinta-feira (8). A saída ocorre em meio à crise diplomática entre Brasil e Nicarágua.
A recente expulsão do embaixador brasileiro Breno da Costa pela Nicarágua intensificou uma crise diplomática entre os dois países, após o diplomata brasileiro não comparecer às celebrações oficiais dos 45 anos da Revolução Sandinista. Em uma retaliação rápida e calculada, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu expulsar a embaixadora nicaraguense Fulvia Patricia Castro Matu, em uma demonstração clara de que a reciprocidade continua sendo um princípio inegociável nas relações internacionais do Brasil.
A crise teve início durante os preparativos para a comemoração do aniversário da Revolução Sandinista, um marco histórico na Nicarágua que levou Daniel Ortega ao poder na década de 70. O embaixador Breno da Costa, que estava no país desde o início de 2023, optou por não participar dos eventos oficiais, uma decisão que foi interpretada pelo governo nicaraguense como uma afronta ao regime de Ortega. A ausência de Costa nas celebrações foi vista como um gesto de desaprovação por parte do governo brasileiro em relação à atual situação política na Nicarágua, marcada por denúncias de violações de direitos humanos e repressão à oposição.
Em resposta, o governo de Ortega, conhecido por sua postura autocrática e por reprimir duramente críticas internas e externas, declarou o embaixador brasileiro como persona non grata, exigindo sua saída imediata do país. A decisão foi recebida com perplexidade em Brasília, onde a diplomacia brasileira, tradicionalmente focada em mediação e diálogo, buscava uma solução menos conflituosa.
No entanto, a resposta brasileira não tardou. Em um comunicado oficial, o Itamaraty anunciou a expulsão da embaixadora nicaraguense Fulvia Patricia Castro Matu, invocando o princípio da reciprocidade, uma prática comum nas relações diplomáticas quando um país sente que foi injustamente tratado. A medida foi acompanhada por uma nota diplomática que expressava a “profunda preocupação” do Brasil com o estado da democracia e dos direitos humanos na Nicarágua, indicando uma deterioração crescente nas relações bilaterais.
Analistas políticos observam que essa troca de expulsões é sintomática de um agravamento das tensões na América Latina, onde regimes autoritários têm se isolado cada vez mais, tanto regionalmente quanto no cenário internacional. A postura do governo Lula da Silva, embora firme, também reflete um desafio maior em equilibrar a defesa dos direitos humanos com a necessidade de manter canais diplomáticos abertos em uma região marcada por instabilidade política.
Com as embaixadas agora operando com equipes reduzidas, o futuro das relações entre Brasil e Nicarágua permanece incerto. Há um temor de que este incidente possa ser um precursor de um afastamento diplomático mais amplo, dificultando não apenas as relações bilaterais, mas também os esforços conjuntos em fóruns regionais como a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) e a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Em meio a este cenário tenso, o governo brasileiro deve agora decidir até que ponto está disposto a desafiar regimes como o de Ortega, sem comprometer seus próprios interesses diplomáticos e econômicos na região. A expulsão recíproca de embaixadores pode ser apenas o começo de uma nova fase de confrontação, na qual a diplomacia brasileira precisará de habilidade e cautela para evitar que uma crise isolada se transforme em um impasse prolongado.
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