Apesar da entrada no período de chuvas, o Rio Negro voltou a apresentar sinais de vazante nos últimos dias, intensificando o fenômeno conhecido como “repiquete” — um aumento breve e temporário no nível das águas após um recuo. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), a expectativa é que essas flutuações continuem irregulares até dezembro, quando o nível deve começar a estabilizar.
Nesta quinta-feira (31), o Rio Negro alcançou a marca de 12,18 metros em Manaus, após registrar uma nova descida de três centímetros em relação aos dias anteriores. Em 9 de outubro, o rio atingiu o menor nível já registrado, de 12,11 metros, sinalizando uma vazante histórica. Entre 9 e 24 de outubro, o rio teve uma recuperação expressiva, chegando a 12,50 metros, mas voltou a recuar em 32 centímetros desde então.
A diretora de Hidrologia e Gestão Territorial do SGB, Alice Castilho, explica que essa oscilação, típica dos “repiquetes”, representa um cenário natural, embora imprevisível, no regime hidrológico amazônico. “O rio vai se manter em oscilações baixas até o próximo mês. Nossa projeção indica uma recuperação gradual até o fim do ano, mas sem atingir cotas significativas, devendo permanecer abaixo dos 16 metros até o período das festividades de Natal e Réveillon”, afirma Castilho.
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Impacto na bacia do Amazonas e nos afluentes
O 45º Boletim de Alerta Hidrológico da Bacia do Amazonas, publicado pelo SGB, traz um panorama completo das condições dos rios na região, confirmando que o quadro de seca tem afetado não só o Rio Negro, mas também outros importantes cursos d’água. O Rio Solimões, que margeia cidades como Tabatinga e Manacapuru, vem apresentando recuos expressivos. Em Tabatinga, a descida média é de 10 cm por dia, enquanto em Manacapuru, a diminuição diária tem sido de 3 cm. Em Coari, o nível permanece estável com pequenas elevações, insuficientes, porém, para inverter a tendência de baixa.
No Rio Amazonas, as cidades de Itacoatiara e Parintins, além de localidades do Pará, como Óbidos e Santarém, registraram recuos contínuos. O Rio Madeira, por sua vez, flutua entre elevações e quedas; Porto Velho apresenta um quadro de leve recuo, enquanto Humaitá registrou elevação no último final de semana, indicando um comportamento ainda incerto e oscilatório.
Outros afluentes importantes, como o Rio Acre, em Rio Branco (AC), mostram leve elevação, enquanto o Rio Purus, em Beruri, continua a registrar uma queda média de 1 cm ao dia, mantendo-se em níveis historicamente baixos. O Rio Branco, que passa por Boa Vista e Caracaraí (RR), encontra-se estável, mas sem perspectivas de recuperação significativa.
Consequências para comunidades e meio ambiente
A oscilação e o recuo das águas têm impacto direto sobre as populações ribeirinhas e a biodiversidade local. “A vulnerabilidade das comunidades se agrava à medida que a seca persiste. Com o baixo nível dos rios, as dificuldades no transporte fluvial e no abastecimento de água se intensificam, especialmente nas regiões onde o acesso terrestre é limitado ou inexistente”, alerta o engenheiro ambiental Roberto Dias, que acompanha de perto as questões de recursos hídricos na Amazônia.
A fauna e a flora locais também são afetadas pela instabilidade hídrica. Os ecossistemas de várzea, que dependem das cheias para renovar nutrientes, podem sofrer com o desequilíbrio na reprodução de espécies aquáticas e terrestres, impactando a cadeia alimentar. Além disso, o nível reduzido dos rios favorece a expansão de bancos de areia e ilhas temporárias, modificando o curso natural das águas e dificultando a navegação em regiões previamente navegáveis.
Expectativa para a recuperação em 2024
O SGB projeta que a estabilização dos níveis hídricos possa ocorrer apenas em dezembro, à medida que as chuvas ganham regularidade. “Estamos diante de um evento de seca severa que, embora esperado para o período, foi agravado por fatores climáticos de escala global, como o fenômeno El Niño, que interfere no regime de chuvas da região”, explica Alice Castilho.
Enquanto isso, o SGB segue monitorando diariamente os rios da Amazônia, oferecendo boletins regulares para auxiliar na prevenção e na gestão de impactos sobre as populações afetadas. A previsão de que o Rio Negro permaneça abaixo da cota de 16 metros até o fim do ano é um alerta para a necessidade de adaptação das comunidades locais.
Com a oscilação nos níveis dos rios e a expectativa de novas chuvas irregulares, a Amazônia entra em um período de incertezas, que desafia tanto as políticas de gestão de recursos hídricos quanto as estratégias de sobrevivência de seus moradores.
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Foto: Bruno Kelly / REUTERS
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