A Nasa anunciou nesta semana duas novas estratégias para retornar amostras coletadas em Marte até a década de 2030. As propostas visam substituir o plano original do programa Mars Sample Return, desenvolvido em parceria com a Agência Espacial Europeia (ESA), que se mostrou inviável devido ao alto custo e complexidade. Estimado inicialmente em US$ 11 bilhões (cerca de R$ 67,4 bilhões), o projeto foi revisado e sofreu um atraso significativo, passando a prever o retorno das amostras apenas em 2040.
O atraso foi considerado “inaceitável” pelo administrador da Nasa, Bill Nelson, que reafirmou o compromisso da agência em acelerar o processo e reduzir os custos. Durante uma entrevista coletiva, Nelson explicou que a Nasa tomará uma decisão final sobre qual das novas estratégias será implementada até o segundo semestre de 2026.
Desde que pousou na Cratera Jezero em fevereiro de 2021, o rover Perseverance da Nasa vem coletando amostras de rochas e poeira marcianas. A região é considerada um antigo lago e delta de rio, o que a torna um dos locais mais promissores para encontrar vestígios de vida microbiana passada. Cientistas acreditam que o retorno dessas amostras à Terra pode ser a chave para responder uma das maiores perguntas da humanidade: existe ou já existiu vida fora da Terra?
Novas estratégias para o retorno de amostras
O programa Mars Sample Return é a primeira missão projetada para trazer amostras científicas de um planeta habitável de volta à Terra. No entanto, as complexidades da arquitetura original — que envolvia várias espaçonaves para coletar, armazenar e transportar os materiais — tornaram o projeto caro e demorado.
Em abril de 2023, a Nasa solicitou que seus centros e parceiros industriais desenvolvessem alternativas mais simplificadas e econômicas. Após analisar 11 estudos diferentes, a equipe de revisão estratégica apresentou duas opções principais para a Nasa. Ambas as estratégias envolvem o pouso de um veículo em Marte, coleta das amostras armazenadas pelo Perseverance e o envio delas de volta à Terra, mas cada uma utiliza tecnologias de pouso distintas.
A primeira opção propõe o uso do sky crane, uma tecnologia já testada que foi utilizada para pousar os rovers Curiosity e Perseverance. Esse sistema consiste em um guindaste aéreo que baixa o veículo até a superfície de Marte com o auxílio de cabos.
A segunda alternativa envolve o uso de novas tecnologias desenvolvidas pela iniciativa privada, como projetos de veículos de carga pesada propostos por empresas como SpaceX e Blue Origin. Esse método, que depende da colaboração de parceiros comerciais, visa utilizar um módulo de pouso robusto capaz de transportar as amostras com segurança.
Desafios do pouso em Marte
Pousar em Marte é um dos maiores desafios das missões espaciais. A atmosfera do planeta é espessa o suficiente para queimar uma espaçonave durante a entrada, mas fina demais para desacelerá-la apenas com paraquedas.
Para superar essa barreira, a Nasa desenvolveu o sistema sky crane, que desacelera o veículo com um escudo térmico, paraquedas e retrofoguetes antes de baixar o rover até a superfície usando cabos. Esse sistema foi usado com sucesso em 2012 com o Curiosity e em 2021 com o Perseverance, que capturou imagens da descida.
Ambas as novas estratégias para o retorno de amostras de Marte envolvem uma plataforma de pouso que transportará um Mars Ascent Vehicle (MAV), um pequeno foguete que levará as amostras coletadas até a órbita marciana. Lá, o material será transferido para o Earth Return Orbiter, da ESA, que trará as amostras de volta à Terra.
Custos e cronograma
As propostas recém-apresentadas permitem que as amostras retornem à Terra entre 2035 e 2039, com um custo estimado entre US$ 5,5 bilhões e US$ 7,7 bilhões. Esse valor é significativamente inferior aos US$ 11 bilhões projetados no plano original.
“Seguir dois caminhos potenciais garante que a Nasa consiga trazer as amostras de Marte com economia significativa de custos e cronograma em comparação com o plano anterior. Essas amostras têm o potencial de mudar a forma como entendemos Marte, o universo e a nossa própria existência”, afirmou Nelson.
O Mars Sample Return marcará a primeira vez que a humanidade traz à Terra amostras de um planeta que poderia ter abrigado vida. As análises dessas amostras podem revelar informações sobre a história geológica de Marte, o clima no passado e até mesmo se o planeta já foi habitável.
Simplificação do processo
A Nasa optou por simplificar a arquitetura original do programa, eliminando etapas consideradas desnecessárias. Por exemplo, o plano original previa que as amostras fossem colocadas em órbita ao redor da Lua antes de serem trazidas à Terra. Essa etapa foi descartada, e agora o plano envolve um retorno direto ao nosso planeta.
As plataformas de pouso que levarão os MAVs até Marte também serão menores e contarão com sistemas de energia capazes de operar durante tempestades de poeira marcianas. A decisão de adotar uma abordagem mais direta e prática permitirá que as amostras sejam recuperadas com maior agilidade.
“Estamos confiantes de que podemos retornar todas as 30 amostras antes de 2040 e por um custo inferior ao valor original”, disse a administradora associada da Diretoria de Missões Científicas da Nasa, Dr. Nicky Fox.
Colaboração internacional e concorrência
A missão de retorno de amostras de Marte também representa um esforço de colaboração internacional, com a ESA fornecendo o Earth Return Orbiter e outros componentes críticos da missão.
Entretanto, a Nasa enfrenta concorrência. A China já declarou interesse em realizar uma missão semelhante. O país pretende lançar a missão Tianwen-3 em 2028, com o objetivo de trazer amostras marcianas à Terra até 2031.
Questionado sobre a concorrência, Bill Nelson afirmou que é essencial que os Estados Unidos garantam o sucesso do programa da Nasa. “Não queremos que o único retorno de amostras venha em uma espaçonave chinesa”, disse ele.
Segundo Nelson, enquanto a missão chinesa seria uma operação “pegar e levar”, o programa da Nasa busca coletar uma variedade de amostras que contem a história geológica de Marte e respondam à pergunta sobre a existência de vida no planeta no passado.
Próximos passos
Ao longo do próximo ano, a equipe do Jet Propulsion Laboratory (JPL), em Pasadena, Califórnia, trabalhará nos testes de viabilidade das duas estratégias propostas.
Entre os desafios técnicos está o aumento de 20% no tamanho do sky crane, necessário para suportar o peso do módulo de retorno. Outro desafio será projetar um Mars Ascent Vehicle que sobreviva à descida e consiga decolar de Marte.
A decisão final da Nasa será influenciada pelo governo dos Estados Unidos, que precisará aprovar o orçamento necessário para dar continuidade ao programa.
“Acho que foi responsável oferecer à próxima administração duas alternativas viáveis, caso queiram continuar com o retorno de amostras de Marte — algo que não consigo imaginar que não queiram”, concluiu Nelson.
Enquanto isso, a Nasa seguirá trabalhando para garantir que as amostras recolhidas pelo Perseverance sejam trazidas à Terra e analisadas em laboratórios de última geração, em busca de respostas sobre o passado e a possível existência de vida no planeta vermelho.
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(Foto de capa: Instagram NASA)
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