O cenário na periferia sul de Beirute, um dia vibrante e cheio de vida, foi drasticamente alterado em apenas um mês de bombardeios intensos. Um dos principais redutos do Hezbollah, essa região transformou-se em um campo de ruínas e desolação desde o início dos ataques israelenses em 23 de setembro.
Onde antes crianças corriam pelas ruas, cafés acolhiam multidões, e o comércio fervilhava, agora prevalece um silêncio opressivo, quebrado apenas pelo som das bombas que continuam a cair. A destruição é palpável e abala os que se aventuram a retornar.
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Desconfiança e vigilância constante
Apesar do cenário de guerra, pequenos grupos de jovens montados em motocicletas percorrem as ruas em patrulhas informais. Com olhares atentos, eles vigiam quem entra na área devastada, permitindo o acesso apenas àqueles que buscam ver o que restou de suas casas e resgatar o que puderem de suas vidas interrompidas.
A tensão é evidente. A desconfiança domina as ruas, com os moradores temendo tanto os bombardeios quanto eventuais infiltrados. A guerra aberta entre Israel e o Hezbollah reacendeu antigas feridas e ampliou o fosso entre as comunidades.
O ataque israelense que matou Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, em 27 de setembro, marcou o início de uma nova e brutal fase do conflito, com bombardeios sem precedentes que destruíram não apenas edifícios, mas também o espírito da região.
Uma cidade mutilada
Mais de 300 edifícios foram reduzidos a escombros, e a infraestrutura da periferia sul de Beirute está em colapso. Tubulações de água e esgoto estão expostas, com pedaços de asfalto espalhados pelas ruas. A destruição das redes de telefonia e internet isola ainda mais os moradores, já privados de eletricidade em muitas áreas.
Os hospitais da região, que lutam para atender os feridos, também foram atingidos, forçando a evacuação de pacientes para outras partes da cidade. Organizações humanitárias enfrentam enormes desafios para fornecer ajuda, devido à dificuldade de acesso e à intensidade dos ataques aéreos.
Uma moradora que preferiu não se identificar relata a devastação de sua casa. “Nós tínhamos uma vida aqui. Agora não sobrou nada. Não sei o que fazer. O medo é constante, e não sabemos quando isso vai acabar”, disse ela enquanto olhava para o que restava de sua sala de estar.
A morte de Nasrallah e a escalada do conflito
A morte de Hassan Nasrallah, em um bombardeio israelense sem precedentes, mudou drasticamente a dinâmica do conflito. O líder xiita, visto como um símbolo de resistência pelos seus seguidores, havia se mantido à frente do Hezbollah por décadas, sobrevivendo a inúmeras tentativas de assassinato. Sua morte, entretanto, não trouxe o fim dos confrontos. Pelo contrário, intensificou-os.
Israel justificou os ataques como uma resposta aos recentes confrontos na fronteira com o Líbano e às ameaças contínuas do Hezbollah. Desde então, o sul de Beirute tornou-se o epicentro de uma guerra feroz que ameaça arrastar o Líbano inteiro de volta ao caos.
Uma população encurralada
Os moradores da periferia sul de Beirute encontram-se em uma situação desesperadora. Com poucas opções de abrigo e recursos escassos, muitos foram forçados a deixar a área, enquanto outros, sem alternativa, permanecem, tentando sobreviver entre os escombros. As famílias que ficaram enfrentam a incerteza de um futuro que parece cada vez mais sombrio.
Organizações internacionais têm pressionado por um cessar-fogo, mas as negociações têm sido infrutíferas. A escalada do conflito entre Israel e Hezbollah, alimentada por décadas de tensões, parece longe de uma resolução.
Beirute, que há anos tenta se reerguer dos horrores da guerra civil, mais uma vez enfrenta o pesadelo da destruição. A cidade, que já foi chamada de “Paris do Oriente Médio”, tem suas cicatrizes ampliadas a cada nova explosão, a cada novo ataque.
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Foto: Fadel Itani / AFP
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