A escalada de desentendimentos entre o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro israelense Benyamin Netanyahu atingiu novos patamares, após um intenso bate-boca relacionado à ofensiva de Israel no Líbano e à origem do Estado de Israel. As provocações trocaram de lado no cenário diplomático, com as declarações de Macron sobre a criação do Estado judeu gerando reações inflamadas por parte do governo israelense e da comunidade judaica francesa.
A troca de farpas entre os líderes começou com a insistência de Macron em pedir uma trégua na região, com o objetivo de diminuir a escalada do conflito entre Israel e o Líbano. A solicitação francesa foi mais uma vez rejeitada por Netanyahu, que manteve a postura firme de continuar a ofensiva militar. O tom da conversa, no entanto, foi além da divergência sobre o cessar-fogo.
Durante o Conselho de Ministros francês, na última terça-feira (15), Macron teria feito uma declaração que rapidamente repercutiu internacionalmente: “Netanyahu não deve esquecer que seu país foi criado por uma decisão da ONU. E, consequentemente, este não é o momento de desconsiderar as decisões da ONU”. A frase, não desmentida pelo Palácio do Eliseu, trouxe à tona a Resolução 181 da ONU, que, em 1947, definiu a criação de um Estado judeu e de um Estado árabe no território palestino.
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A referência de Macron à legitimidade da ONU, especialmente em um momento de tensões na Assembleia Geral, soou como uma crítica direta ao comportamento recente de Netanyahu, que tem demonstrado desdém pela organização internacional. Durante seu último discurso na ONU, Netanyahu exortou a comunidade internacional a proteger as forças de paz no Oriente Médio, alegando que a presença da UNIFIL (Força Interina das Nações Unidas no Líbano) estaria atrapalhando as operações israelenses para “resgatar reféns”.
Netanyahu rebate com ataque histórico
A resposta de Netanyahu foi rápida e dura. O primeiro-ministro israelense, através de um comunicado à imprensa, rejeitou veementemente a ideia de que a criação de Israel dependesse unicamente de uma decisão da ONU. “Não foi a decisão da ONU que deu origem ao Estado de Israel, mas a vitória alcançada na guerra de independência por combatentes heroicos, incluindo muitos sobreviventes do Holocausto, inclusive do regime de Vichy na França”, declarou Netanyahu, em um tom que claramente evocava as feridas históricas da França.
Ao mencionar o regime de Vichy, Netanyahu trouxe à superfície um capítulo doloroso da história francesa, quando o governo colaboracionista de Vichy, durante a ocupação nazista, cooperou com o regime de Hitler na deportação de milhares de judeus franceses para campos de concentração. Essa alusão, além de reforçar a narrativa de autodeterminação de Israel, toca em um ponto sensível para a França, onde o termo “colaboracionista” carrega uma profunda carga negativa até hoje.
Impacto nas relações bilaterais e reações internas
A troca de acusações entre Macron e Netanyahu gerou um impacto imediato nas relações franco-israelenses, que já se mostravam abaladas. Há pouco mais de dez dias, o presidente francês havia solicitado o “fim do fornecimento de armas” para os combates em Gaza, em uma tentativa de reduzir a violência na região, uma proposta também rejeitada por Israel.
Além disso, o Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif), uma das mais influentes organizações da comunidade judaica francesa, também se manifestou em defesa de Netanyahu, afirmando que “a história do povo judeu e a fundação de Israel são muito mais complexas do que uma resolução da ONU”. O Crif, que mantém uma relação estreita com o governo israelense, já havia expressado desconforto com a postura crítica de Macron em relação às operações militares de Israel.
Repercussões diplomáticas e riscos no cenário internacional
A repercussão internacional dessa troca de farpas já começou a causar reflexos. A França, tradicional mediadora de conflitos no Oriente Médio, pode ver sua influência regional diminuída se a tensão com Israel continuar a se agravar. Ao mesmo tempo, as relações bilaterais, que sempre oscilaram entre a cooperação econômica e as divergências políticas, estão em um ponto crítico.
Para Israel, as críticas de Macron somam-se a uma série de pressões internacionais sobre sua política de segurança e suas ações militares na região. Com as operações no Líbano ganhando atenção mundial, Netanyahu busca consolidar o apoio doméstico e reforçar sua narrativa de que a segurança de Israel está acima das críticas externas.
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Foto: © via REUTERS – POOL
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