A morte do adolescente Fernando Vilaça da Silva, de 17 anos, vítima de espancamento no bairro Gilberto Mestrinho, Zona Leste de Manaus, volta a expor uma ferida aberta na sociedade: a violência motivada por preconceito. Segundo testemunhas, Fernando foi alvo de insultos homofóbicos e tentou dialogar com os agressores antes de ser brutalmente atacado. Ele morreu no último sábado (5), após três dias internado em estado grave.
De acordo com o Instituto Médico Legal (IML), Fernando teve traumatismo craniano, hemorragia e edema cerebral. A Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) investiga o caso como homicídio.
O episódio, amplamente compartilhado nas redes sociais, gerou indignação e mobilizou entidades de direitos humanos. Dados do Grupo Gay da Bahia revelam que, em 2024, o Brasil registrou 291 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+, um aumento de 13,2% em relação ao ano anterior. O Amazonas aparece com oito casos documentados apenas neste período, número que pode ser maior diante da subnotificação.
Formação social e discurso de ódio
Para o psicoterapeuta Diego Anunciação, que atua com abordagem holística e está em formação em psicanálise, episódios como o de Fernando não são isolados e revelam uma estrutura de violência presente nas bases familiares, sociais e culturais.
“O comportamento extremo de um adolescente ou jovem não surge do nada. Quando alguém acredita ter o poder de agredir ou matar outro por quem ele é, isso é o reflexo direto da educação recebida, da cultura que consome, das crenças que reproduz. Precisamos olhar com seriedade para o que estamos ensinando, ou deixando de ensinar, sobre respeito à diversidade”, analisa.
Segundo Diego, muitos dos discursos de ódio começam de forma velada, ganham força em ambientes como redes sociais ou grupos de convívio, e terminam em violência. “Perfis com opiniões carregadas de preconceito costumam dar sinais. O problema é que, socialmente, ainda confundimos liberdade de expressão com licença para ferir o outro. A psicanálise nos ajuda a entender esses comportamentos e a nomear os silêncios e recalques que os alimentam”, explica.
A importância do acolhimento psicológico
Para a população LGBTQIA+, especialmente jovens em situação de vulnerabilidade, o impacto da violência (verbal, física ou simbólica) se reflete diretamente na saúde mental. Estimativas apontam que 42% das pessoas trans já tentaram suicídio. Uma pesquisa da Unifesp indica que 37% da população LGBTQIA+ convive com quadros de depressão, contra 28% entre pessoas não-LGBTQIA+.
“Em muitos casos, o acesso à terapia é negado por barreiras financeiras ou preconceito institucional. Ainda assim, buscar acompanhamento psicológico é fundamental. O serviço existe no SUS, apesar da alta demanda. Ter alguém que escute, acolha e ajude a elaborar essas dores pode ser a diferença entre resistir ou sucumbir”, pontua Diego.
Violência crescente
Segundo o Disque 100, canal de denúncias do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, foram registrados mais de 5.700 casos de LGBTQIA+fobia em 2024. Entre as vítimas, estão não apenas pessoas agredidas por sua orientação ou identidade, mas também quem tentou defendê-las.
“Fernando é mais um nome em uma estatística dolorosa. Mas ele também representa a urgência de políticas públicas que promovam educação para o respeito, acesso digno à saúde mental e punição efetiva para crimes de ódio”, conclui o especialista.
Se você ou alguém que conhece está sofrendo violência, denuncie. O Disque 100 funciona 24h e recebe denúncias anônimas.
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