Com ônibus sucateados, transporte público atormenta passageiros em Manaus

Assessoria de Imprensa

Ônibus velhos, sem ar-condicionado, sujos e desconfortáveis, paradas de ônibus sem abrigo. Essa é a realidade enfrentada pela maioria das 500 mil pessoas que utilizam os ônibus do sistema de transporte coletivo de Manaus diariamente. Nas ruas e pontos de ônibus, são muitas as reclamações dos usuários. 

Isso porque, além dos veículos sucateados, alguns com mais de 12 anos de uso, Manaus não apresentou nos últimos anos projetos de mobilidade urbana eficazes, o que torna as viagens de ônibus cada vez mais longas e incômodas, tanto para o passageiro quanto para motoristas e cobradores.

Um exemplo disso aconteceu na manhã desta sexta-feira (6/9), quando o ônibus de placa NOK-5092, da Açaí Transportes, entrou em pane na rua Marquês de Quixeramobim, no Parque das Laranjeiras, zona Centro-Sul da capital. O veículo, da marca Volvo, foi fabricado em 2011, e parou por problemas mecânicos, atingindo diretamente a roda dianteira esquerda – um retrato da frota que circula hoje na cidade, necessitando de urgente renovação. A única linha de ônibus que passa pela Marquês de Quixeramobim e faz integração no Terminal 1, conforme apontava o veículo, é da linha 440.

As péssimas condições dos veículos, junto à falta de investimento em ações de mobilidade, tornam as viagens de ônibus um sufoco para quem precisa do transporte no dia-a-dia, como a manicure Tamires da Silva, 35 anos. Moradora do bairro Jorge Teixeira, na zona Leste, ela trabalha em um salão de beleza no bairro Dom Pedro, na zona Centro-Oeste, e sai todos os dias de casa às 5h30 da manhã para chegar às 8h. 

“Sou mãe de cinco filhos e perco muito tempo para sair e voltar para casa. Quando saio, estão dormindo. Quando volto, muitas vezes já foram se deitar. Eu praticamente não consigo acompanhar direito a rotina e o crescimento deles”, lamentou.  

Tamires está entre os usuários de ônibus de Manaus que sonham com um transporte público de qualidade. Do total da frota, composta por 1.116 ônibus, a Prefeitura de Manaus diz que renovou nos últimos anos 40%, o equivalente a 446 veículos com ar-condicionado. Quem precisa usar os outros 670 ônibus sofre com a sensação térmica dentro dos coletivos, que frequentemente passa dos 40 graus.

Não bastassem os problemas nos veículos, que volta e meia quebram nas ruas da cidade, quem necessita utilizar os terminais de integração disputa vaga para entrar nos ônibus nos horários de pico. “É um sofrimento para o trabalhador e a trabalhadora, o pai e a mãe de família que todo dia acorda cedo e vai trabalhar em um ônibus lotado; e volta tarde para casa espremido no coletivo”, diz Roberto Cidade, candidato à Prefeitura de Manaus pelo União Brasil.

Ele lembra, ainda, do tempo que muitas pessoas perdem no trânsito de Manaus. “Quem mora longe, leva em média 1 hora e meia para ir trabalhar, mais 1 hora e meia para voltar. O passageiro precisa ser prioridade no sistema de transporte. Eu vou exigir que as empresas tenham mais ônibus novos circulando, pois tem ônibus nas ruas hoje com mais de 10 anos de fabricado. E vamos enfrentar a questão da mobilidade com as obras necessárias nas vias, asfalto de qualidade e tecnologia para reduzir os engarrafamentos”, afirma Roberto Cidade.

Veículos e linhas insuficientes

Realidade difícil também para quem precisa caminhar por horas do ponto de ônibus para seu destino final. É que algumas áreas da cidade, apesar do crescimento imobiliário e comercial que tiveram, ainda não contam com linhas e veículos em quantidade suficiente para suprir a demanda.

É o caso de quem trabalha na rua Waldemar Jardim Maués, no Novo Aleixo, zona Leste. Na via, há empresas de todos os portes, inclusive fábricas, além de condomínios residenciais. Mesmo assim, todos os dias é fácil ver centenas de pessoas caminhando por longos trajetos, ao descerem dos pontos de ônibus para seus locais de destino. 

Em outro ponto da cidade, no Tarumã, zona Oeste, trabalhadores precisam pagar por vans particulares se não quiserem caminhar a pé até as empresas e condomínios da avenida Frederico Baird. Vera Lima, 53, faz faxina em diversas casas de condomínios da via e explica que, muitas vezes, ao descer do ônibus, precisa caminhar um quilômetro e meio até chegar ao trabalho. “É sempre isso. Uma saga pra ir e voltar. Se não tiver carona, é esse sufoco. Já chego cansada para faxinar”, lamenta.

Investimento sem retorno

Dentro dos investimentos prometidos pela atual gestão da Prefeitura de Manaus para o transporte público estavam os ônibus elétricos. 

Um convênio no valor de quase R$ 35 milhões foi integralmente pago pelo Governo do Amazonas à Prefeitura para dotar a cidade de 13 destes veículos, incluindo um sistema de carregamento da frota. Todos deveriam ter sido entregues até o final de 2023. Até o momento, somente dois ônibus elétricos estão em circulação, na zona Centro-Sul.

Em entrevistas recentes à imprensa, o atual prefeito David Almeida alegou que a altura dos ônibus elétricos não coincide com a altura das plataformas centrais de embarque instaladas nos corredores viários; e que os veículos consomem muita bateria.

Terminais ruins, rodoviária sem previsão

Em relação aos terminais de passageiros, a Prefeitura de Manaus afirma ter reformado os terminais 1 (Centro) e 2 (Cachoeirinha) e estar executando a reforma do terminal 3 (Cidade Nova). Nos outros, diz ter feito serviços pontuais, como a melhoria da iluminação. “Para mim, houve só pintura e remendo. Não vejo mudanças. Está tudo caindo aos pedaços”, disse o comerciante João Pires, 55.

Outro convênio já liberado pelo Governo do Amazonas é o do novo terminal rodoviário da cidade, o T6. Erguido na gestão do ex-prefeito Arthur Neto, a estrutura ficou inoperante por anos. Só em 2023 teve a obra de readequação iniciada, para se transformar na nova rodoviária de Manaus.

Localizada no bairro Lago Azul, o novo prédio substituirá a rodoviária instalada na avenida Djalma Batista e funcionará como terminal para viagens municipais e intermunicipais. Para esta obra, o Governo do Estado já repassou R$ 4,3 milhões à Prefeitura. Porém, a obra permanece sem previsão de entrega.

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