Após décadas de negociações e inúmeras idas e vindas, o Mercosul e a União Europeia anunciaram oficialmente nesta sexta-feira (6), durante a cúpula do Mercosul em Montevidéu, Uruguai, um acordo de livre comércio histórico. A medida busca estreitar as relações econômicas entre os blocos, prometendo impactos significativos no comércio global.
Fim das negociações e próximos passos
O acordo marca o encerramento das negociações iniciadas em 1999 e que ganharam novo fôlego nos últimos meses. Embora o anúncio represente um avanço, ainda será necessário cumprir etapas burocráticas, como a revisão legal do texto, sua tradução para os idiomas oficiais dos países envolvidos, além da aprovação pelos legislativos do Mercosul e da União Europeia (UE). Somente após esses processos o acordo poderá entrar em vigor.
O que prevê o acordo?
O pacto entre Mercosul e UE visa eliminar ou reduzir tarifas de importação e exportação, beneficiando setores como agricultura e bens industriais. Além disso, engloba outros temas estratégicos, como:
- Cooperação política e ambiental;
- Harmonização de normas sanitárias e fitossanitárias;
- Proteção à propriedade intelectual;
- Facilitação do acesso a compras governamentais.
Segundo estimativas, o acordo poderá gerar benefícios econômicos relevantes, como economia anual de 4 bilhões de euros em tarifas para empresas da UE e ampliação do mercado para produtos sul-americanos.
Desafios e críticas
Apesar do potencial de benefícios, o acordo enfrenta resistência, especialmente de setores agrícolas na UE, liderados pela França. Os agricultores europeus temem concorrência desleal com produtos do Mercosul, que, segundo eles, não seguem as mesmas normas ambientais e sanitárias exigidas na Europa. A oposição francesa também critica o que consideram um descompasso do acordo com metas ambientais globais.
Por outro lado, setores industriais no Mercosul também demonstram preocupação com a concorrência de produtos europeus, conhecidos pela alta qualidade e competitividade.
Impacto no Brasil
O Brasil, principal potência do Mercosul, será um dos maiores beneficiados pelo tratado. Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que o acordo pode elevar o PIB brasileiro em 0,46% entre 2024 e 2040, com ganhos acumulados de US$ 11,6 bilhões em exportações e aumento de 1,49% nos investimentos estrangeiros.
Especialistas destacam que o mercado europeu, conhecido por ser exigente e bem remunerado, pode abrir novas oportunidades para produtos agrícolas brasileiros. Contudo, setores industriais do país terão que lidar com desafios, como maior competitividade e necessidade de modernização.
Caminho até a implementação
O acordo ainda precisa superar barreiras significativas, principalmente no lado europeu, onde as aprovações passam pelo Conselho da UE e pelo Parlamento Europeu. Para que seja validado, pelo menos 55% dos países membros, representando 65% da população da UE, devem aprová-lo. Esse requisito aumenta o peso da França e de outras nações contrárias ao tratado no processo de ratificação.
No Mercosul, cada parlamento nacional — Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia — precisará também ratificar o texto.
Perspectivas
O anúncio do acordo marca um momento histórico para as relações comerciais entre os dois blocos, mas seu futuro ainda depende de negociações políticas internas. Governos e especialistas analisam os impactos e desafios para garantir que a parceria seja vantajosa para ambas as partes.
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(Capa: Javier Milei, Luis Lacalle Pou, Ursula von der Leyen, Luiz Inacio Lula da Silva e Santiago Pena durante cúpula do Mercosul, no qual o acordo com a União Europeia foi fechado — Foto: Mariana Greif/Reuters)
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