A gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) no Brasil é um tema complexo, que envolve desafios logísticos, necessidade de altos investimentos e a cultura de descarte da população. O debate sobre o assunto tem ganhado destaque nos últimos anos, impulsionado pelas mudanças climáticas e pela urgência de mitigar seus impactos. No entanto, apesar da crescente conscientização, a geração de RSU aumentou em 2023.
De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2024, publicado pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (ABREMA), cada brasileiro produz, em média, 382 quilos de RSU por ano. A Região Sudeste lidera a geração desses resíduos, com mais de 39,9 milhões de toneladas em 2023, o que representa 49,3% do total nacional. Já a Região Norte gerou seis milhões de toneladas (7,5%), a menor porcentagem do país. Entre os muitos RSUs descartados, o vidro é um dos presentes.




Em Macapá (AP), a Vitrum, empresa liderada pela empreendedora Janaína Silvestre, busca mudar essa realidade. Fundada em 2021, a Vitrum nasceu quando Janaína e seus sócios, então voluntários do movimento Lixo Zero, perceberam que os ecopontos da região não incluíam o descarte de vidro devido à ausência de uma empresa especializada no setor.
Ela descobriu que a logística e o alto custo de envio do material para indústrias de transformação, situadas principalmente na Região Sudeste, inviabilizavam a operação.
“Nós começamos a pesquisar sobre alternativas que pudessem ser realizadas de forma local [em Macapá], sem que precisássemos enviar para outro estado como matéria prima ainda e assim aumentar o valor de mercado do material, já que iríamos produzir outros produtos na região”, conta Janaína. A partir dessa necessidade, surgiu a Vitrum, com o objetivo inicial de substituir a areia natural por areia artificial de vidro.
De ideia a realidade: a trajetória da Vitrum
O primeiro passo para validar a iniciativa foi submetê-la a uma avaliação profissional. Em novembro de 2021, a empresa participou do módulo de Ideação do programa “Inova Amazônia”, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Durante a fase de pré-aceleração, a Vitrum recebeu um aporte de R$ 6 mil ao longo de seis meses.
“Esse foi o primeiro investimento que a Vitrum recebeu e que fez sair da ideia para o MVP (“Minimum Viable Product”), onde conseguimos desenvolver nosso protótipo, [decidir] qual seria a trituração ideal, o aspecto físico desse vidro para que tenha a ‘pega’ junto com o cimento. A proposta é que o vidro triturado substitua a areia [natural] dentro da construção civil”, explica a empreendedora.
A jornada, no entanto, não foi fácil. A Vitrum se formalizou como empresa em 2022 e, desde então, passou por outros programas de apoio a negócios de impacto, como o “Startup Indústria”, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), e uma nova etapa do “Inova Amazônia”, agora no módulo Tração.
Com um novo aporte de R$ 36 mil, a empresa expandiu seu portfólio, passando a produzir não apenas areia de vidro e mistura para revestimentos de construção civil, mas também peças cimentícias e outros produtos inovadores.
Atualmente, a Vitrum conta com cinco funcionários e, desde o início das operações de coleta e transformação de vidro, já reciclou mais de 30 toneladas de material, evitando seu descarte incorreto ou destinação a aterros sanitários. Segundo cálculos da própria empresa, essa quantidade representa uma economia de cinco toneladas de gás carbônico (CO₂) – um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa –, além de poupar 23 metros cúbicos de espaço em aterros sanitários.
Outro diferencial da Vitrum é seu processo 100% sustentável, dispensando a necessidade de compensação ambiental. Ao longo dos anos, a empresa recebeu investimentos de sócios, empresas e capital semente, totalizando R$ 250 mil. Agora, direciona suas ações para um crescimento ainda maior.
“Hoje, com pensamentos em escala industrial, é necessário que se tenha um investimento [maior] para que consigamos produzir mais, até mesmo para absorver a quantidade de vidro gerada anualmente. Não somente em nosso estado, mas em toda a região norte”, diz Janaína, que estima um aporte de R$ 2 milhões para também alcançar a exportação de seus produtos.
O negócio está com novidades para 2025. Um deles é a coleta por assinatura para bares e restaurantes, além da presença de ecopontos patrocinados e outros serviços. Além disso, fará o lançamento de uma linha própria de móveis, bancadas, tampas de mesa e outras peças exclusivas e sustentáveis.
“Nosso compromisso é continuar inovando, aliando sustentabilidade ambiental e financeira. Queremos garantir um crescimento próspero para Macapá e, em breve, para toda a Amazônia”, finaliza a empreendedora.
Lab de Impacto: um impulso para o crescimento
Além dos programas já citados, a Vitrum foi uma das 14 empresas selecionadas para a primeira edição do Lab de Impacto, programa de aceleração promovido pelo Impact Hub Manaus, em 2023.
Durante quatro meses, a Vitrum recebeu formações especializadas, mentorias, conexões estratégicas com o mercado e um capital semente de R$ 30 mil.
Segundo Marcus Bessa, cofundador do Impact Hub Manaus, o aporte financeiro para negócios na Amazônia ainda é baixo, considerando as singularidades da região e as necessidades de cada iniciativa, mas mostra confiança para o futuro.
“Temos um compromisso com a representatividade e o apoio aos empreendedores amazônidas. Sabemos da importância do trabalho deles para a transformação da Amazônia. Quando somamos esforços com outros agentes, conseguimos alcançar impactos positivos em toda a região”, comenta Bessa.
O “Lab de Impacto” é uma realização do Impact Hub Manaus, em parceria com a Bemol, Singulari Consultoria e a Plataforma Parceiros pela Amazônia (PPA).
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