Após quase duas semanas de uma inesperada subida, o nível do rio Negro voltou a registrar queda, segundo a medição do Porto de Manaus desta sexta-feira (25). O rio desceu 4 centímetros, chegando à cota de 12,50 metros, um movimento que interrompe uma breve fase de elevação que se estendeu desde o dia 13 de outubro.
A estabilização ocorreu na última quarta-feira (24), coincidindo com as comemorações de aniversário de 355 anos da capital amazonense. Nos 11 dias em que o rio experimentou elevação, a alta chegou a 39 centímetros, com acréscimos diários de até 6 centímetros em algumas ocasiões. Esse comportamento, incomum para esta época do ano, se deu pouco após o nível do rio atingir a marca histórica de 12,11 metros, em 9 de outubro, a menor cota já registrada.
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Entendendo o fenômeno do repiquete
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (SGB – CPRM), essa elevação temporária das águas do rio Negro, seguida pela estabilização e subsequente retorno à vazante, é um fenômeno conhecido como repiquete. O termo refere-se a uma pequena subida nas águas do rio durante o período de seca, geralmente causada por chuvas localizadas ou alterações climáticas temporárias, antes que o rio retome seu ciclo de descida natural.
Para José Oliveira, hidrólogo da CPRM, a oscilação atual se alinha ao padrão de repiquete. “Apesar de termos registrado a cota mais baixa da história este mês, o repiquete não é totalmente incomum durante o período de vazante. Ele ocorre em função das chuvas pontuais na cabeceira dos rios, o que gera uma elevação breve, sem impacto significativo para o ciclo das águas amazônicas”, explicou.
Recorde histórico e reflexos locais
Este ano, o rio Negro experimentou uma situação crítica. A marca de 12,11 metros registrada em outubro foi não apenas a mais baixa já aferida desde o início do monitoramento hidrológico, mas também uma preocupação para os setores ambientais, econômicos e para a população ribeirinha, que enfrenta os efeitos adversos de vazantes intensas.
Além dos reflexos imediatos, a vazante recorde tem levantado preocupações sobre os efeitos a longo prazo das mudanças climáticas na região amazônica, onde ciclos de enchente e seca vêm apresentando anomalias mais frequentes. A escassez hídrica afeta diretamente a pesca, a agricultura local e, em última instância, a biodiversidade aquática, que precisa adaptar-se a condições extremas.
Expectativas para o ciclo hidrológico
Conforme o ciclo hidrológico amazônico, o período de seca se estende até novembro, sendo seguido pela gradual subida das águas até junho, quando é registrada a cheia anual. A CPRM informa que, apesar da variação recente, o rio deve continuar em queda até o final do ano, mantendo-se no padrão de vazante.
As previsões meteorológicas apontam que a Amazônia Ocidental deve enfrentar uma temporada de chuvas típica, o que trará alívio tanto para a recuperação dos rios quanto para a população dependente dos recursos fluviais.
Perspectivas e preparação
Diante do cenário hidrológico atual e das previsões para o próximo ciclo de cheia, o governo estadual, em conjunto com a Defesa Civil e o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), reforça a importância do monitoramento contínuo e da preparação das comunidades ribeirinhas. Medidas como assistência emergencial e o fornecimento de itens essenciais estão sendo planejadas para casos de necessidade, garantindo apoio a quem depende das águas do rio Negro.
A oscilação do rio Negro em 2024 reforça a importância de um planejamento integrado, com base em dados científicos e apoio à comunidade local, para que a população amazônica possa enfrentar com segurança as incertezas climáticas da região.
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Foto: Marina Souza / G1
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