Pescadores de Tefé ‘pescam’ no seco em meio à seca severa do Rio Solimões

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O município de Tefé, situado às margens do Rio Solimões, a 523 quilômetros de Manaus, vive uma das mais dramáticas secas de sua história em 2024. A grave estiagem, que assola boa parte da Amazônia neste ano, fez com que pescadores locais se deparassem com uma cena incomum: peixes encalhados na lama, presos em poças d’água cada vez menores. O fenômeno foi registrado em vídeo e rapidamente se espalhou pelas redes sociais, chamando atenção para os impactos da seca no ciclo natural do rio.

No vídeo, um dos pescadores narra a inusitada situação: “Não é história de pescador não, nós viemos pescar e não carece de botar malhadeira, os peixes estão tudo em terra”, relata o homem, que mostra diversas espécies de peixes, como jaraqui e curimatá, capturados diretamente na lama. O cenário registrado na região do Abial, em frente ao município de Tefé, é um retrato da seca severa que afeta o Rio Solimões, um dos maiores e mais importantes cursos d’água da bacia amazônica.

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Vídeo: Reprodução

Impacto ambiental e econômico

A seca de 2024 é considerada uma das piores das últimas décadas. Ela resulta da combinação de fatores climáticos como o fenômeno El Niño, que intensificou a falta de chuvas na Amazônia, e o desmatamento crescente, que agrava a vulnerabilidade dos rios e igarapés da região. O resultado é um impacto direto na biodiversidade aquática e nas atividades econômicas locais, principalmente a pesca, que é a principal fonte de subsistência de milhares de famílias ribeirinhas.

“É desolador ver uma situação dessas. Os peixes ficam presos em pequenas poças e acabam morrendo asfixiados ou apanhados de forma desesperada pelos pescadores”, explica o biólogo João Barreto, especialista em ecossistemas amazônicos. Segundo ele, além da mortandade de peixes, o ciclo de reprodução dessas espécies está gravemente comprometido, o que pode ter consequências a longo prazo para a sustentabilidade da pesca na região.

A pesca de espécies como o jaraqui e o curimatá, que são fundamentais para a dieta dos habitantes locais, já vinha enfrentando desafios com a diminuição dos estoques pesqueiros, agravados pela sobrepesca e pela degradação ambiental. Com a seca, a crise se aprofunda, aumentando a pressão sobre os recursos naturais da Amazônia.

Comunidade ribeirinha em alerta

Além dos danos ambientais, a situação no Rio Solimões tem consequências diretas na vida dos ribeirinhos. Sem o fluxo normal das águas, as populações que dependem da pesca e do transporte fluvial sofrem com o isolamento e a escassez de alimentos. Muitas famílias que antes pescavam em grande escala para vender o excedente em mercados locais e regionais agora lutam para garantir o próprio sustento.

“Antes, a gente saía de madrugada para armar as redes de pesca e voltava com barco cheio. Agora, a situação mudou. A gente não sabe mais como vai ser o amanhã”, desabafa Maria Francisca da Silva, moradora de Tefé e pescadora há mais de 30 anos.

A estiagem também afeta o abastecimento de água potável. Com o recuo do rio, muitas fontes de água estão secando, obrigando as comunidades a recorrerem a alternativas como caminhões-pipa ou fontes de água duvidosa, aumentando o risco de doenças.

Medidas emergenciais

Diante do agravamento da crise, o governo do Amazonas tem adotado medidas emergenciais para mitigar os impactos da seca. O envio de cestas básicas e a instalação de poços artesianos em áreas críticas são algumas das ações implementadas para ajudar as comunidades mais afetadas. No entanto, especialistas alertam que essas medidas são paliativas e não atacam a raiz do problema.

Organizações ambientais também têm chamado a atenção para a necessidade urgente de ações de preservação da Amazônia, especialmente no combate ao desmatamento ilegal, que contribui para a diminuição da umidade da floresta e interfere nos padrões de chuva.

O futuro incerto de Tefé e do Rio Solimões

Enquanto os pescadores de Tefé improvisam para sobreviver à seca, a pergunta que fica é: até quando a Amazônia resistirá às pressões climáticas e humanas? A seca de 2024 é mais um lembrete da fragilidade dos ecossistemas da região e da dependência da população local de um ambiente equilibrado.

Para os pescadores que hoje ‘pescam’ no seco, a esperança é de que as chuvas retornem e o ciclo do rio volte ao normal. “A gente vive do rio, mas o rio está morrendo aos poucos”, conclui um dos pescadores, resumindo a preocupação que ecoa entre os habitantes de Tefé.

Enquanto isso, as imagens de peixes sendo capturados na lama permanecem como um símbolo da luta diária dos ribeirinhos e da necessidade urgente de ação para proteger um dos maiores patrimônios naturais do Brasil.

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Imagem de capa: Divulgação

Vídeo: Divulgação

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