A Polícia Federal deflagrou uma operação na manhã desta sexta-feira (11), cumprindo mandado de busca e apreensão em Manaus contra uma mulher suspeita de vender mercúrio líquido de forma ilegal pela internet. A ação faz parte de uma investigação mais ampla sobre o comércio clandestino dessa substância, amplamente utilizada no garimpo ilegal de ouro na Amazônia.
O mercúrio, altamente tóxico, é usado para separar partículas de ouro das impurezas e sua manipulação inadequada representa sérios riscos à saúde pública e ao meio ambiente. Documentos apreendidos na residência da investigada serão analisados pela equipe de investigadores, com o objetivo de desmantelar um possível esquema criminoso.
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Comércio de mercúrio nas redes sociais
A investigada utilizava o marketplace, plataforma de vendas do Facebook, para anunciar mercúrio líquido a garimpeiros e intermediários. De acordo com a Polícia Federal, essa prática ilícita tem sido usada para abastecer o garimpo ilegal na região amazônica, atividade que tem causado graves consequências ambientais, incluindo a contaminação de rios e peixes.
“O mercúrio é uma substância de elevada toxicidade, sujeita a rigoroso controle no Brasil, mas a sua comercialização continua ativa em grupos e perfis de redes sociais, apesar das tentativas de remoção dos anúncios pelas plataformas”, explicou a PF em nota.
Impactos ambientais e à saúde
O uso indiscriminado de mercúrio no garimpo ilegal vem alarmando autoridades e pesquisadores. Segundo dados do Ministério Público Federal (MPF), em municípios como Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, 50% dos peixes analisados apresentaram contaminação por mercúrio. Essa contaminação não só impacta os recursos naturais, mas também a saúde das populações locais, especialmente comunidades indígenas que dependem da pesca para sua subsistência.
Estudos recentes revelam um cenário preocupante: cerca de 56% das mulheres e crianças Yanomami, que habitam a região de Maturacá, foram diagnosticadas com altos níveis de mercúrio no sangue. A situação agrava-se com a contínua expansão de garimpos ilegais em áreas protegidas da Amazônia.
Além disso, um levantamento conjunto da Fiocruz, Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), Greenpeace e WWF-Brasil constatou que os níveis de mercúrio nos peixes consumidos pela população em seis estados da Amazônia brasileira estão, em média, 21,3% acima do permitido por órgãos de saúde.
Ações contra o comércio ilegal
Em resposta à gravidade da situação, o MPF emitiu, em setembro deste ano, uma recomendação ao Facebook para que intensifique a exclusão de anúncios que promovam a venda de mercúrio líquido. A recomendação também inclui a divulgação de alertas aos usuários sobre a proibição desse comércio. Apesar das medidas tomadas, as investigações revelam que muitas páginas e grupos continuam ativos, facilitando o tráfico da substância.
O MPF segue monitorando a situação e pressionando para que as plataformas de redes sociais sejam mais eficientes na detecção e remoção de conteúdos ilegais, contribuindo para a diminuição desse tipo de crime.
O garimpo ilegal continua sendo um dos maiores desafios ambientais da Amazônia, movido pelo comércio de ouro e pelo uso descontrolado de mercúrio. A operação da Polícia Federal em Manaus é mais um esforço para combater a cadeia de fornecimento de mercúrio, que tem sérias implicações para o meio ambiente e a saúde das comunidades locais.
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