A seca severa que afeta o Amazonas está tendo repercussões alarmantes não apenas nas áreas rurais, mas também no cotidiano dos moradores da capital, Manaus. Produtos alimentares comuns, como pimenta de cheiro, pimentão e tomate, sofreram aumentos significativos de preço, trazendo à tona as dificuldades enfrentadas tanto pelos produtores quanto pelos consumidores da região.
De acordo com a plataforma “Busca Preço”, da Secretaria de Estado de Fazenda do Amazonas (Sefaz), os valores desses produtos dispararam. Nesta quinta-feira (17), o quilo da pimenta de cheiro chega a R$ 39,90, enquanto o tomate cereja é vendido a R$ 27,50 e o pimentão vermelho atinge impressionantes R$ 61,09. Os números revelam uma realidade cada vez mais crítica para quem depende de produtos frescos no dia a dia.
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Logística afetada pela seca
O aumento expressivo dos preços está diretamente relacionado à logística prejudicada pela seca, que tem restringido o transporte fluvial, principal meio de escoamento de alimentos no estado. Com rios abaixo do nível normal, várias embarcações estão encalhadas, impedindo a chegada de produtos à capital e encarecendo o pouco que chega.
Cidades do interior, como Tapauá, estão completamente isoladas. A população local relata que barcos estão encalhados na “Boca” do Rio Purus, tornando difícil o acesso a mercadorias básicas. O resultado é uma alta considerável nos preços. Um pacote de 500g de café, por exemplo, custa R$ 25, e o preço da botija de gás chegou a R$ 180, um impacto direto no custo de vida dos moradores.
Proteínas e refeições também sentem o impacto
Além dos vegetais, outros produtos essenciais também registram aumentos. O frango, uma das proteínas mais consumidas em Manaus, viu seu preço médio chegar a R$ 12,75 por quilo, impulsionado pela crescente demanda interna e internacional. A elevação no custo de alimentos básicos e proteínas reflete o cenário nacional de inflação dos preços de alimentos, mas é intensificada pelas particularidades logísticas da região amazônica.
Além dos produtos comprados diretamente pelos consumidores, o impacto também pode ser sentido nos restaurantes e lanchonetes da cidade. Uma pesquisa divulgada em agosto pela Ticket revelou que o preço médio de uma refeição completa — incluindo prato principal, bebida, sobremesa e cafezinho — subiu 49% nos últimos cinco anos. O valor, que em 2019 era de R$ 34,62, agora está em R$ 51,61, um reflexo tanto da inflação quanto das dificuldades logísticas enfrentadas pelos estabelecimentos.
Medidas de controle
Diante da crise, o Ministério Público do Amazonas acionou as prefeituras para que adotem medidas urgentes visando evitar a prática de preços abusivos, principalmente no interior do estado, onde as populações estão ainda mais vulneráveis. Segundo o órgão, o isolamento forçado de municípios, como Tapauá, favorece práticas de especulação com os preços de itens essenciais, como alimentos e combustíveis.
Enquanto isso, o Governo do Estado afirma estar monitorando a situação e que medidas estão sendo tomadas para mitigar os impactos da seca, incluindo ações de suporte logístico e abastecimento. Contudo, com a previsão de que a seca possa se agravar nos próximos meses, consumidores e autoridades seguem em alerta.
Cenário de incertezas
A seca no Amazonas, que já é considerada uma das piores da última década, traz consigo incertezas que vão além do abastecimento e dos preços altos. A produção agrícola na região também está ameaçada, com lavouras comprometidas e menor oferta de produtos, o que pode agravar ainda mais a situação nas próximas semanas.
Os consumidores em Manaus e no interior se veem forçados a adaptar suas rotinas de compras, enquanto aguardam que ações governamentais consigam trazer algum alívio. Até lá, os desafios econômicos e sociais impostos pela crise hídrica continuam a ser uma dura realidade para o Amazonas.
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Foto: Michel Melo / Secom
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