Com a intensificação da seca e a persistente falta de chuvas nas bacias do Amazonas, o período de vazante em 2024 traz impactos profundos para a população e o ecossistema amazônico. Após um ciclo severo de estiagem em 2023, o déficit de precipitação permanece crítico, ampliando problemas de transporte, segurança alimentar e acesso a serviços básicos, sobretudo em comunidades ribeirinhas.
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB) e o Painel do Clima do Amazonas, entre setembro e outubro de 2024, algumas das bacias mais afetadas foram as dos rios Negro, Purus e Madeira, onde a precipitação acumulada foi cerca de 60% abaixo da média histórica. Com isso, o Rio Negro, em Manaus, atingiu uma cota mínima de 12,11 metros no início de outubro, marcando o menor nível registrado em 122 anos. Esse valor intensificou os efeitos da vazante e complicou a navegação em áreas estratégicas para o abastecimento da capital.
Impactos Econômicos e Humanitários
A severidade da seca comprometeu a navegabilidade em diversas calhas, dificultando a chegada de alimentos e medicamentos às regiões mais remotas. Para o deputado estadual Rozenha, que recentemente denunciou a burocracia no processo de dragagem do trecho da Costa do Tabocal, em Itacoatiara, “a lentidão nas ações federais agrava o sofrimento da população. A natureza não espera e, com o isolamento, cada dia sem suprimentos é uma ameaça à segurança alimentar das famílias”.
Atualmente, aproximadamente mais de 330 mil pessoas estão em situação de vulnerabilidade alimentar e nutricional devido à crise, com comunidades inteiras dependendo de transporte alternativo ou racionamento de alimentos. Nas escolas estaduais de regiões como o Alto Solimões e Juruá, a entrega de merenda foi comprometida, resultando na suspensão de atividades em algumas unidades, o que compromete a segurança alimentar de milhares de crianças.
Desafios Ambientais e a Resiliência do Ecossistema
A prolongada seca prejudica também a biodiversidade local, afetando principalmente o ciclo de reprodução de espécies de peixes como o tambaqui, base da pesca artesanal na região. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), a redução dos níveis dos rios compromete as áreas de desova e impacta diretamente a economia dos pescadores. “A pesca já não oferece a mesma abundância e tamanho dos exemplares de anos anteriores”, aponta a pesquisadora Luísa Carvalhaes, destacando que a interrupção desse ciclo impacta não apenas a pesca, mas toda a cadeia alimentar do ecossistema aquático.
Além disso, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) alerta que o fenômeno El Niño, ativo desde 2023, intensificou o déficit de chuvas na bacia amazônica. Embora o período chuvoso tenha começado oficialmente, os níveis de precipitação ainda estão aquém do esperado, o que retarda a recuperação hídrica da região.
Medidas Emergenciais e Planejamento Futuro
Em resposta, o Governo do Amazonas declarou situação de emergência em todos os 62 municípios e anunciou ações para apoiar a logística de abastecimento, incluindo a mobilização de balsas alternativas para garantir o transporte de cargas e suprimentos essenciais. Contudo, a necessidade de planejamento a longo prazo é evidente. O governo estadual discute com o Ministério do Desenvolvimento Regional a implantação de um sistema de monitoramento hidrológico mais eficaz, que permita prever e mitigar os impactos de fenômenos extremos, como as vazantes recordes e as cheias intensas.
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(Foto de capa: Semcom. Moradores afetados pela seca no Amazonas)
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