Google Maps adota “Golfo da América” nos EUA após decreto de Trump

Em uma reviravolta que combina política e tecnologia, o Google Maps passou a exibir o nome “Golfo da América” para a tradicionalmente conhecida bacia do Golfo do México no território dos Estados Unidos. A mudança, que entrou em vigor nesta terça-feira (11), decorre de um decreto assinado pelo ex-presidente Donald Trump, e reacende a polêmica em meio às tensões históricas entre Estados Unidos e México.

Na assinatura de um decreto realizado a bordo do Air Force One, no último domingo (9), Trump oficializou a alteração nomenclatural enquanto a aeronave sobrevoava a região do Golfo. Segundo a declaração do próprio ex-presidente, feita em janeiro, a mudança tem um tom provocativo:

“Nós vamos mudar o nome do Golfo do México para ‘Golfo da América’, que nome bonito. É apropriado porque o México tem um déficit enorme com a gente e nós fazemos todo o trabalho lá.”

Enquanto a medida tem validade exclusiva para o território norte-americano – onde apenas “Golfo da América” é exibido aos usuários – no México o nome permanece inalterado, e ambos os países continuam a reconhecer a designação histórica “Golfo do México”. Nos demais países, o Google Maps optou por uma solução conciliatória: a região é apresentada como “Golfo do México” com “Golfo da América” aparecendo logo abaixo, entre parênteses.

Em comunicado divulgado na segunda-feira (10), a empresa de tecnologia ressaltou:

“Pessoas que usam o (Google) Maps nos EUA verão Golfo da América, e pessoas no México verão Golfo do México. Todos verão os dois nomes.”

Reações e a polêmica diplomática

A decisão de Trump provocou reações acaloradas no cenário internacional. A presidente da Cidade do México, Claudia Sheinbaum, não poupou críticas ao decreto, respondendo de forma irônica à provocação:

“Obviamente, o Golfo do México é reconhecido pelas Nações Unidas. Mas por que não chamamos (os Estados Unidos) de ‘América Mexicana’? Nome bonito, né? Vamos chamar assim então.”

A declaração de Sheinbaum intensificou o clima de confronto, destacando as nuances de uma disputa que vai muito além de uma simples mudança de nomenclatura, envolvendo questões de identidade, memória histórica e poder diplomático.

Contexto histórico e comparações

Historicamente, o Golfo do México é reconhecido mundialmente por sua importância geográfica e econômica, sendo a designação “Golfo do México” amplamente utilizada em documentos oficiais e referências internacionais. Contudo, este não é o primeiro episódio em que a nomenclatura de um território se torna objeto de controvérsia.

O episódio evoca a situação das Falklands, no Atlântico Sul, que no Google Maps são identificadas como “Falklands Islands” nos países anglófonos e “Islas Malvinas” nos países de língua espanhola. O arquipélago, disputado entre Reino Unido e Argentina, viveu momentos de tensão, especialmente durante a Guerra das Malvinas em 1982, e continua a ser alvo de debates diplomáticos.

Especialistas em geopolítica apontam que o caso do Golfo é um exemplo claro de como decretos políticos podem influenciar a forma como os territórios são representados em plataformas digitais. “A digitalização dos mapas não apenas reflete realidades geográficas, mas também pode ser usada como instrumento de afirmação política, gerando debates sobre a influência de governos em serviços que deveriam ser neutros”, explica um analista de relações internacionais.

Para os usuários do Google Maps, a alteração pode parecer meramente estética ou até confusa, mas simboliza um episódio em que a política se infiltra em ambientes digitais globais. A mudança ressalta a crescente interseção entre tecnologia, diplomacia e discurso político, evidenciando como plataformas de informação podem se tornar palcos de disputas ideológicas.

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Foto: Drew ANGERER / AFP

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