Antonio Cicero, escritor e membro da ABL, morre na Suíça e deixa carta de despedida

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O escritor, compositor e filósofo Antonio Cicero, um dos grandes nomes da literatura brasileira contemporânea e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), morreu na manhã desta quarta-feira (23), aos 79 anos, na Suíça. Cicero, que sofria de Alzheimer, optou por realizar um procedimento de morte assistida no país europeu.

A confirmação do falecimento foi dada pela ABL, onde o autor ocupava a cadeira 27 desde agosto de 2017. Na semana anterior ao procedimento, Cicero viajou com seu companheiro, Marcelo Pies, para Paris, cidade pela qual nutria profunda admiração. De lá, seguiram para Zurique, na Suíça, onde ele realizou sua despedida.

“Passamos alguns dias em Paris para ele se despedir da cidade que tanto amava”, revelou Marcelo a amigos próximos, acrescentando que Cicero vinha planejando a ida à Suíça há algum tempo, enviando documentos e organizando a internação de forma discreta.

Carta de despedida

Antonio Cicero deixou uma carta emocionada explicando sua decisão. Em um dos trechos mais marcantes, o autor escreveu: “Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade”.

Na carta, ele também revela as dificuldades impostas pelo Alzheimer, como a perda da memória e da capacidade de escrever e ler, atividades que sempre foram essenciais em sua vida. A lucidez restante permitiu-lhe refletir sobre sua condição e a decisão de partir, destacando que sua escolha foi baseada na liberdade e na autonomia sobre sua própria existência.

Confira de Antonio Cicero:

“Queridos amigos,
Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.
Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.
Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.
Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.
Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.
Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.
A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.
Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.
Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”

Trajetória e legado

Nascido no Rio de Janeiro, Antonio Cicero foi um dos principais nomes da poesia contemporânea e também se destacou como compositor. Era irmão da cantora e compositora Marina Lima, para quem escreveu canções célebres como “Fullgás”, “Para Começar” e “À Francesa”. Além disso, suas parcerias incluíram nomes como Lulu Santos, João Bosco, Adriana Calcanhotto e Waly Salomão, deixando um legado profundo na música brasileira.

Antonio Cicero combinava poesia, filosofia e música em sua obra, transitando entre a literatura e a canção popular com maestria. Como coautor de “O Último Romântico”, eternizada por Lulu Santos, e de muitos outros sucessos, ele marcou a história da música brasileira.

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(Foto de capa: Reprodução/ TV Globo – O escritor e poeta Antonio Cicero no programa ‘Conversa com Bial’)

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