O Brasil amanheceu mais triste nesta quinta-feira, 24 de outubro de 2024, com a notícia do falecimento de José Adilson Rodrigues dos Santos, o inesquecível Maguila. O ex-pugilista morreu aos 66 anos, deixando uma trajetória brilhante nos ringues e uma luta pessoal contra a encefalopatia traumática crônica, doença que enfrentou por 18 anos.
Maguila estava internado em São Paulo há 28 dias, e sua esposa, Irani Pinheiro, confirmou a morte em entrevista à Record TV. “Nos últimos dias ele sofreu bastante. Detectaram um nódulo no pulmão, e ele sentiu muitas dores. Infelizmente, não conseguimos fazer a biópsia”, declarou Irani. A família optou por manter discrição durante o período de internação, preservando o pugilista e seus entes queridos.
Uma vida de superação e glória
Natural de Aracaju, Sergipe, Maguila nasceu em 11 de julho de 1958 e viveu uma infância marcada por dificuldades. Ainda adolescente, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou como ajudante de pedreiro e enfrentou a fome e a precariedade. Chegou a morar em um caminhão abandonado antes de começar a trilhar sua carreira no boxe, esporte pelo qual se apaixonou inspirado por ícones como Muhammad Ali e Éder Jofre.
A estreia profissional de Maguila aconteceu em 1981, sob a orientação do técnico Ralph Zumbano, na tradicional “Forja de Campeões”. O pugilista rapidamente se destacou, conquistando o primeiro título brasileiro em 1983 e mantendo-se no topo do boxe nacional até 1995. Em 1984, ele se sagrou campeão sul-americano ao nocautear o argentino Juan Antonio Figueroa, título que defendeu por uma década.
Duelos históricos com gigantes mundiais
A carreira de Maguila atingiu seu ápice em lutas históricas contra nomes consagrados do boxe mundial. Em 1989, ele enfrentou Evander Holyfield em um combate aguardado por milhões de brasileiros. Apesar do desempenho promissor no início da luta, acabou sendo derrotado por nocaute no segundo round. “Lutar contra Maguila foi importante para mim. Ele era número um, e eu precisava provar meu valor para enfrentar Mike Tyson”, relembrou Holyfield em depoimento ao Esporte Espetacular.
Em 1990, foi a vez de Maguila enfrentar George Foreman em Las Vegas, outro momento marcante na sua trajetória. Mesmo com a derrota, ele manteve o bom humor ao longo dos anos: “Só de falar no Foreman, dá vontade de cair de novo”, brincou certa vez sobre a força do adversário.
A conquista do cinturão mundial e o adeus aos ringues
Em 1995, Maguila escreveu um capítulo importante da história do boxe nacional ao conquistar o cinturão da Federação Mundial de Boxe (WBF), ao vencer Johnny Nelson em Osasco. Embora a WBF não seja uma das entidades mais prestigiadas do boxe mundial, o título foi simbólico para o esporte brasileiro, já que Maguila se tornou o primeiro campeão mundial dos pesos-pesados do país.
Sua despedida oficial dos ringues aconteceu em 2000, quando foi derrotado por Daniel Frank. Ao longo da carreira, Maguila acumulou 77 vitórias e foi reconhecido pela potência de seus golpes e carisma dentro e fora do ringue.
Luta contra a demência pugilística
Fora das competições, Maguila enfrentou outra batalha, desta vez contra a encefalopatia traumática crônica, uma doença neurodegenerativa resultante de traumas repetidos na cabeça. A condição, também conhecida como demência pugilística, trouxe desafios para ele e sua família. Irani Pinheiro, companheira de vida do ex-pugilista por mais de 40 anos, foi fundamental no cuidado durante os anos mais difíceis.
“Maguila foi diagnosticado com Alzheimer em 2010, mas em 2013 descobrimos que era demência pugilística. Fizemos de tudo para garantir uma boa qualidade de vida para ele. Foram momentos difíceis, mas também tivemos muitas alegrias”, relatou Irani. Nos últimos anos, Maguila viveu em uma clínica terapêutica no interior de São Paulo, onde recebia cuidados especializados.
Em um gesto de grandeza e em prol da ciência, a família de Maguila decidiu doar seu cérebro para estudos na Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa busca compreender melhor os impactos de traumas repetidos na cabeça, com o objetivo de desenvolver medidas preventivas para esportistas de alto impacto, como boxeadores e jogadores de futebol.
Legado além dos ringues
Além da trajetória vitoriosa no boxe, Maguila foi um apaixonado pelo samba e chegou a lançar um álbum musical em 2009, intitulado Vida de Campeão. Seu carisma também o levou à televisão, onde fez participações especiais como comentarista e personalidade pública. Em 2021, ele foi homenageado pela escola de samba “Me Chama Que Eu Vou” em um desfile virtual que exaltou sua vida e conquistas.
Maguila inspirou gerações com sua história de superação, mostrando que é possível vencer adversidades com perseverança e determinação. Embora as gravações de um filme sobre sua vida, que seria protagonizado por Babu Santana, tenham sido interrompidas por falta de patrocínio, seu legado permanece vivo na memória dos brasileiros.
Últimas palavras e agradecimentos
Em uma de suas últimas entrevistas, Maguila deixou um recado emocionado para os fãs que o acompanharam durante décadas: “Quero mandar um abraço para todos os meus fãs do Brasil. Um abraço grande para eles.”
A despedida de Maguila marca o fim de uma era para o boxe brasileiro. Ele foi um lutador incansável, dentro e fora dos ringues, e será sempre lembrado como um símbolo de força, coragem e alegria. O legado do “Campeão dos Campeões” viverá para sempre no coração dos brasileiros.
Maguila: Cartel de Lutas
- Lutas Totais: 85
- Vitórias: 77 (61 por nocaute)
- Derrotas: 7
- Empates: 1
Principais Conquistas
- Campeão Brasileiro (1983)
- Campeão Sul-Americano (1984)
- Campeão Mundial da WBF (1995)
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(Foto de capa: Divulgação)
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