Devota de Nossa Senhora, a aposentada Edinaide Palheta, 74, encontrou na fé a sua força para lutar por sua vida e seus direitos. Após falhas nos atendimentos médicos que deveriam ser contínuos por parte do plano de saúde Unimed, a assistida procurou o Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa) da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) para garantir a frequência de seu tratamento oncológico.
Desde 2011, ano que descobriu o primeiro nódulo maligno, dona Edinaide já enfrentou cinco tipos de câncer (mama, pulmão, tórax, orelha e pele) e passou por mais de 170 quimioterapias e imunoterapias.
A trajetória de luta para vencer o câncer não tirou o sorriso do rosto da aposentada, que leva consigo a missão de levar uma vida tranquila e feliz, mesmo com a doença. No início do tratamento não foi uma tarefa fácil, quando, no mesmo ano, descobriu nódulos em duas áreas, no tórax e pulmão.
“Como eu descobri o segundo nódulo no final do ano, eu preferi operar apenas em 2012, porque eu queria me despedir da família, já que achava que não iria sobreviver. Então, pensei em fazer um natal inesquecível, me vesti de mamãe noel e de anjo, cantei com os netos, meu pátio ficou cheio de familiares e amigos. Queria que eles lembrassem da minha felicidade”, relembrou.
A aposentada contou que além dos cânceres, há um pouco mais de três anos também enfrentou operações nos dois fêmures, uma devido a uma queda em casa, o que ocasionou a fratura, e outra após sofrer um acidente de trânsito.
“Esses cânceres não têm me maltratado tanto quanto as dores nos fémures. Mas assim mesmo eu reajo, graças a Deus, voltei para a hidroginástica e é a minha alegria”, afirmou.
Garantia no tratamento
Entre idas e vindas na clínica que presta o atendimento oncológico, dona Edinaide explicou que o plano de saúde passou a falhar na entrega de medicamentos, que deveriam ocorrer de 21 em 21 dias. Por isso, buscou a Defensoria para regularizar o serviço. Foi quando o seu caminho cruzou com o do defensor público Arlindo Gonçalves, coordenador do Nudesa.
“Eu acabava não recebendo o medicamento no tempo certo e, se você está em um tratamento de câncer, isso não pode falhar. Então, o defensor Arlindo entrou no caso e não faltou mais. Graças a Deus, eu fui atendida pela Defensoria e consegui o meu tratamento regular”, afirmou.
Quando o defensor Arlindo Gonçalves conheceu a aposentada, já existia uma ação ajuizada contra o plano de saúde. Precisando com urgência do acesso ao tratamento quimioterápico, a Defensoria atuou para “acionar judicialmente o plano de saúde e, a partir de uma decisão judicial favorável, buscar bloquear verbas para que ela conseguisse, de algum modo, custear o tratamento”, explicou.
Um exemplo de vida
Para o defensor, a leveza e otimismo de dona Edinaide é algo inspirador e deve servir de exemplo para a sociedade, levando a reflexão da maneira em como podemos encarar a vida e os percalços do dia a dia.
“Quando falamos desse tipo paciente, sem especificar que é a dona Edinaide, você faz uma imagem de uma pessoa que talvez esteja amargurada, de alguma forma revoltada, até com a demora do seu plano de saúde, com toda razão, e eu já vi a dona Edinaide passar por muitas dificuldades relacionadas a saúde, e nunca vi essa senhora com sentimento negativo, chateada, triste, é sempre uma pessoa que responde de uma forma muito positiva, sempre vendo o lado bom da vida”, afirmou.
A amizade entre o defensor e assistida, que surgiu durante os atendimentos, resultou na troca de atualizações sobre o dia a dia e as mudanças que a vida traz. Em uma das mensagens recém trocadas, o defensor afirmou que foi informado sobre a descoberta de mais um câncer em dona Edinaide e a fratura nos dois fêmures.
“Da última vez que falei com ela, eu pensei que ela estava muito debilitada, mas logo em seguida ela enviou um áudio, falando de uma forma muito feliz que estava no Teatro Amazonas, acompanhando um evento, que estava lindo, e depois enviou um outro, e eu pensei que viria algo negativo, mas era ela falando que estava fazendo hidroginástica e estava amando. Ela realmente é um ser humano diferenciado”, declarou o defensor.
“O defensor Arlindo continua em contato perguntando se estou bem e como está o tratamento, eu digo para ele não se preocupar que eu até falo na clínica que se fizerem alguma coisa eu tenho o defensor que é meu amigo”, disse a assistida.
O trabalho da Defensoria foi ecoado por Edinaide para outros amigos e pacientes que possuíam alguma dificuldade de acesso ao serviço de saúde. “Eu elogio muito o trabalho da Defensoria, principalmente o dr. Arlindo. Eu falo na clínica que se algum paciente tiver dificuldade é para buscar a Defensoria, que eu passo até o endereço”, completou.
Em 2022, dona Edinaide escreveu o livro “Cansei o câncer: uma trajetória de vida, fé, aceitação e resiliência” para contar a sua luta contra a doença e sua experiência de vida. O defensor Arlindo Gonçalves também participou desse importante momento, ao escrever a contracapa do livro.
“Tive o privilégio de estar defensor público no momento em que a dona Edinaide precisou da Defensoria. Foi um presente divino este contato. Aprendi muito com ela sobre a importância da fé, e a ressignificar a própria vida”, disse o defensor Arlindo em trecho do livro.
Texto: Isabella Lima
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