Para celebrar a Semana dos Povos Originários, na segunda-feira, dia 14 de abril, mais de três mil indígenas acenderam a tocha para a realização da III Edição de Danças e Jogos Interculturais na aldeia Marajaí, localizada no município de Alvarães, a 535 quilômetros de Manaus.
No dia do lançamento, estiveram presentes autoridades, incluindo o prefeito de Alvarães, Lucenildo Macedo, que tem dado apoio aos indígenas desde a primeira edição dos Jogos, oferecendo premiações e logística.
O evento ocorrerá até o dia 19 de abril, Dia dos Povos Originários, e se encerrará com apresentações culturais que incluem uma disputa tribal entre o “casal guerreiro” e a “indígena mais bela” de cada aldeia. Entre os objetivos desta edição, estão a luta em defesa dos territórios indígenas, a retomada das tradições dos povos originários e o incentivo à preservação do meio ambiente.
Na noite do dia 14, após a abertura, cada aldeia apresentou suas danças e músicas, envolvendo todas as 16 aldeias que se organizaram com suas indumentárias e temas variados, celebrando a demarcação de territórios e a luta pela preservação ambiental.
Durante todo o período do evento, a terceira edição dos jogos está realizando mais de 13 modalidades, entre elas arremesso de lança, arco e flecha, subida no açaizeiro, arremesso de ouriço, cabo de guerra, atletismo, corrida com tora, baladeira, zarabatana, canoagem, natação e remo. Estão competindo as aldeias Améria, Assunção, Baú, Bauana, Bom Jesus, Canaria, Igarapé Grande, Juruparí, Laranjal, Macedônia, Marajaí, Mari, Ponta da Castanha, Santa Luzia, Tapiíra e Vila Alencar, todas localizadas no município de Alvarães.










Resgate de uma tradição
A região de Alvarães, no Médio Solimões, vem sendo reconhecida por pesquisadores e por seus moradores como um local de forte tradição indígena. Isso se deve ao fato de a região estar revelando um passado “desconhecido”. Nas margens e na terra firme do rio Solimões e em parte do Lago Tefé, vasos e urnas indígenas têm sido encontrados por ribeirinhos e povos tradicionais, demonstrando que as manifestações culturais indígenas já existiam na região há centenas de anos.
Tal reconhecimento dos povos originários de Alvarães despertou o interesse em resgatar parte dessa cultura, dando vida ao festival de Jogos e Danças Interculturais Indígenas do município, que atualmente envolve 16 aldeias.
Há três anos, lideranças indígenas têm resgatado essas manifestações culturais, inspiradas também em outras regiões que já realizavam jogos tradicionais. O festival traz jogos, danças, músicas e diversas expressões que haviam sido extintas de suas tradições, revitalizando o evento indígena, que chega à sua terceira edição.
Para o tuxaua Jeferson Tikuna, da Aldeia Macedônia, a realização dos jogos representa um momento para que a cultura e as tradições de sua aldeia sejam resgatadas.
“Esse é um marco muito importante para nossa aldeia e para outras que, há muitos anos, haviam perdido grande parte da cultura. Estamos participando pelo segundo ano do evento e já temos notado uma grande diferença em nossa aldeia, pois até as nossas crianças estão envolvidas e interessadas em aprender nossa língua, danças, músicas e atividades esportivas através do festival”, ressaltou.
Conscientização
Com o tema “Proteção da Terra Mãe”, a terceira edição dos Jogos e Danças Interculturais Indígenas de Alvarães tem como foco a importância da demarcação das terras indígenas, a preservação da natureza e dos recursos naturais para evitar a crise climática, bem como ressaltar a importância do resgate e preservação da cultura indígena, mantendo essas tradições vivas para as futuras gerações.
Em 2023 e 2024, a região do Médio Solimões foi severamente afetada pela grande seca dos rios da Amazônia, deixando aldeias e comunidades indígenas totalmente isoladas durante esse período, incluindo as 16 aldeias participantes do evento. Diante disto, todas concordaram que o tema desta edição deveria estar voltado para as ações climáticas e preservação, sendo essa uma forma de expressão e fortalecimento para enaltecer suas culturas e dar ainda mais importância às causas ambientais.
“Nós não pensamos apenas no esporte e nas apresentações, também estamos preocupados com os territórios. A natureza está enfrentando dificuldades e nós, indígenas, somos guardiões dessa água, da terra, dessas grandes sumaúmas e castanheiras. Hoje estou presenciando a vida dessa floresta e dessas árvores que estão em pé, mas amanhã não sabemos como tudo isso estará. A Amazônia não é apenas nossa, é de todo o planeta, e nosso dever é preservá-la. Faço um apelo a todos para que unamos nossas forças e lutemos para mantermos a floresta em pé. Esta é uma obrigação de todos nós”, reforçou o produtor cultural e ativista indígena Charles Mayoruna, da aldeia Marajaí.
Realização e Apoio
O evento está sendo realizada pela Diretoria dos Jogos Interculturais Indígenas de Alvarães, e pela coordenação de Educação Escolar Indígena de Alvarães. Tem apoio da Prefeitura Municipal de Alvarães, 16 ª Bda Inf de Tefé, SESAI e FUNAI.
TEXTO: Tácio Melo
Fotos: Tácio Melo
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