Os disparos contra o ex-presidente Donald Trump, nos Estados Unidos (EUA), reacenderam o debate sobre o aumento da violência política em algumas sociedades nos últimos anos, como a brasileira e a norte-americana.
Especialistas consultados pela Agência Brasil indicam que a “guerra cultural” amplificada pelas redes sociais está fomentando a violência política em países como Brasil e Estados Unidos. Essa violência é distinta daquela vivida durante a Guerra Fria, período em que Estados Unidos e União Soviética competiam por influência global, resultando em ditaduras pela América Latina.
A “Guerra Cultural” e suas Implicações
De acordo com o sociólogo Pablo Almada, pós-doutor do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), a “guerra cultural” é uma estratégia que vai além da demarcação política, criando verdadeiros campos de batalha nas redes sociais. Ele explica que essa guerra se baseia em uma lógica binária e excludente, promovendo polarizações profundas que transcendem a esfera política.
Almada destaca que essa “guerra cultural” é uma disputa no campo ideológico que envolve valores, crenças e normas culturais, frequentemente manipulados por grupos conservadores e de direita para influenciar a opinião pública com discursos inflamados. Ele observa que essa lógica ganhou força na década de 2010, especialmente com a eleição de Donald Trump em 2016.
Violência Legitimada
Rafael R. Ioris, professor da Universidade de Denver e pesquisador do Washington Brazil Office (WBO), observa que a violência política tem aumentado, impulsionada por discursos de ódio que promovem a intolerância e justificam o uso da força para resolver questões políticas. Ele nota que, embora existam diferenças contextuais entre os países, essa nova forma de violência política compartilha uma visão autoritária que prega a eliminação das diferenças pela força.
Ioris comenta que no final do século 20 havia a expectativa de que a violência política fosse superada em algumas sociedades, mas nos últimos anos houve um ressurgimento dessa violência em diversos países, incluindo Brasil e na Europa.
Papel das Redes Sociais
Ambos os especialistas ressaltam o papel das redes sociais e da desinformação no crescimento da violência política. Almada explica que a desinformação amplifica visões equivocadas sobre o outro, utilizando memes e conteúdos virais para disseminar discursos de ódio. Ioris acrescenta que, embora as redes sociais não sejam intrinsecamente ruins, elas servem como instrumentos para amplificar discursos anti-sistêmicos.
Impacto na Democracia
O aumento da violência política é um sintoma de uma crise nas democracias liberais, conforme avalia Rafael Ioris. Ele observa que a insatisfação crescente com a concentração de riqueza e a falta de representatividade política leva alguns setores da população a defender a ruptura democrática.
Pablo Almada enfatiza que as instituições democráticas são alvo da “guerra cultural” e da desinformação, exemplificando com os ataques aos resultados eleitorais no Brasil e nos Estados Unidos. Ele destaca que esses discursos deslegitimam figuras públicas e as instituições às quais pertencem, como no caso das campanhas de desinformação contra o Supremo Tribunal Federal (STF) no Brasil.
Juventude e Desinformação
Almada acrescenta que a juventude, grande consumidora de internet, é particularmente vulnerável à desinformação disseminada pelas redes sociais, muitas vezes usando-as como principal fonte de informação. Ioris, por sua vez, pondera que, embora muitos jovens apoiem visões radicalizadas, não se pode generalizar essa tendência.
A matéria destaca a necessidade de uma análise crítica do papel das redes sociais na disseminação de discursos de ódio e na amplificação da violência política, assim como a importância de fortalecer as instituições democráticas frente a esses desafios.
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