Rage Applying: o comportamento de procurar outro emprego “só de raiva”

As demissões voluntárias estão em alta no Brasil, conforme apontado por um estudo do FGV-Ibre, que revelou que o número de pedidos de demissão atingiu o maior nível em abril deste ano em comparação com o mesmo período de 2020, totalizando 734.943 solicitações feitas pelos trabalhadores brasileiros.

Diversos fatores estão por trás dessa insatisfação. Um deles é o mercado de trabalho mais aquecido, com a taxa de desemprego em torno de 7%, no menor nível em uma década. Além disso, novas carreiras em inteligência artificial estão surgindo, o que pode estar influenciando as decisões dos trabalhadores.

Uma tendência que reflete essa insatisfação é o “Rage Applying”, que é o comportamento de procurar outro emprego “só de raiva”. O termo foi cunhado por um tiktoker canadense em 2023, conhecido como @redweez, que trabalhava com marketing digital. Desde então, o termo tem ganhado força, especialmente entre a geração Z, como afirma Lucas Fraga, professor e head de estratégia da BALT, um hub de pesquisa, tendências e estratégia da ESPM.

Essa tendência não é nova, segundo Fraga. O que mudou é a motivação por trás dela. Antes, as pessoas buscavam novas oportunidades de forma mais racional, mas agora, o impulso vem da raiva, levando a ações e decisões mais rápidas.

Nos Estados Unidos, por exemplo, 90% dos trabalhadores afirmam praticar o “Rage Applying”, segundo um estudo da Bold deste ano. Quase metade considera deixar o emprego toda semana, sendo o esgotamento a principal razão apontada.

No Brasil, os pedidos de demissão estão sendo motivados por admissões em outros empregos formais com melhores oportunidades e migração para trabalhos com jornadas mais flexíveis, como empreender seu próprio negócio ou trabalhar em home office, de acordo com a FGV-Ibre.

Ana Catarina Holtz, head de pesquisa da BALT, aponta que a geração Z percebeu que a ideia de sucesso no trabalho como identidade é uma ilusão. Enquanto os Millennials se inspiravam nos empreendedores do Vale do Silício, a geração Z percebeu que o discurso do trabalho duro nem sempre leva ao sucesso, especialmente em um ambiente de trabalho cada vez mais competitivo.

O desafio para as empresas, segundo Fraga, é lidar com as emoções dos trabalhadores. As pessoas estão mais propensas a emoções extremas, e o ambiente de trabalho ainda não é totalmente receptivo a isso. Mudar essa cultura é um dos maiores desafios para as marcas, pois sem empatia será difícil atrair, reter e engajar os jovens funcionários.

Algumas empresas têm se destacado nesse aspecto, como a Patagônia nos Estados Unidos, que possui uma das taxas mais baixas de rotatividade do mundo. O segredo parece ser a flexibilidade, com horários diferenciados e benefícios que ajudam a reter os funcionários.

No Brasil, a Nestlé criou o projeto “#MenteEmFoco”, que visa trazer a saúde mental para a pauta de decisões, oferecendo suporte e acolhimento aos funcionários. Empresas como Bimbo e Benefit Brasil também têm investido em programas específicos para atrair a geração Z, como anúncios de vagas no TikTok e a divulgação da cultura da empresa por jovens funcionários, gerando mais identificação e entusiasmo entre os candidatos.

Para os zoomers, como são chamados os membros da geração Z, o objetivo é encontrar um trabalho com propósito, mas com limites bem definidos, buscando sentido em outras áreas da vida além do trabalho.

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